"Hay hombres que luchan un dia y son buenos
Hay otros que luchan um año y son mejores
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos
Pero hay los que luchan toda la vida
Esos son los imprescindibles"
(Bertolt Brecht)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O Analfabeto Político - Bertolt Brecht

Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Nenhum gaúcho existe





por Marcelo Rocha *




Tema para debate





Se Carlos Drummond de Andrade, em seu poema Hino
Nacional, já questionava a existência do Brasil e dos
brasileiros, talvez não fosse tão absurdo que nós,
gaúchos, às vésperas de mais uma Semana Farroupilha,
refletíssemos a respeito da construção simbólica de
nossa identidade. A figura do gaúcho, metonímia do Rio
Grande do Sul, é fixada pela literatura romântica
regionalista no século 19 e passa, desde então, a
subsumir as demais histórias de formação do Estado, em
função do sonho, às vezes obsessivo, por uma mítica
República Rio-Grandense. A narração constrói um tipo
humano em seu meio ideal e o gaúcho de origem errante,
contrabandista de gado e sem território transforma-se
em herói coletivo sempre disposto a empunhar a
bandeira da liberdade em conflitos para preservação da
autonomia territorial.

A despeito dessa bandeira, é justamente na época da
ditadura militar que a Semana Farroupilha adquiriu um
caráter oficial. Em lei de dezembro de 1964,
determinou-se que esse festejo fosse organizado a
partir da articulação entre instituições públicas e
civis. Dez anos depois, ainda na época do regime
militar, foi criado o Instituto Gaúcho de Tradição e
Folclore (IGTF), reforçando os laços entre o poder
oficial e a simbologia regional. Assim e durante
algumas décadas ainda, as forças da repressão e os
ícones da representação dividiram, solidariamente, o
mesmo mate amargo.

Com efeito, toda construção tem suas sobras. Assim, o
projeto de definição do gaúcho vem acompanhado mais de
exclusões do que inclusões. Dessa forma, se não somos
brasileiros – como o discurso mais fundamentalista
salienta – nem platinos, como muitos gostariam,
habitamos um entrelugar ou um espaço em que nossas
raízes viraram rotas, repetindo o jogo de palavras de
Stuart Hall. Habitamos, por fim, um lugar que não
existe.

A parte disso, não podemos esquecer de que o pala do
gaúcho também é tecido por diversos retalhos. Nossos
primeiros habitantes foram os indígenas cuja história
mostra as representações das Missões Jesuíticas e as
lutas dos guaranis pela manutenção do território. Além
deles, os negros foram fundamentais para a nossa
cultura e economia, seja na presença das religiões
afro-brasileiras ou de narrativas ficcionais,
incorporadas ao nosso folclore, seja no trabalho com o
gado nas charqueadas, na época da escravidão. De igual
modo, as colonizações alemã e italiana foram
sobejamente importantes na formação de nosso Estado,
sobretudo no desenvolvimento da agricultura, com a
diversidade produtiva e no trabalho com o couro. Isso
sem falar em projetos individuais ou coletivos de
colonização com espanhóis, russos, poloneses, entre
outros, que ajudaram a compor esse mosaico multiétnico
do qual fazemos parte.

Portanto, em função dessa multiplicidade de rostos e
definições torna-se impossível estabelecer de maneira
absoluta o que seja o Rio Grande do Sul ou os gaúchos.
O resultado será sempre parcial, ideológico e lacunar.
Por outro lado, o reconhecimento dessa pluralidade
étnica e cultural que nos compõe talvez seja o caminho
mais justo para escolhermos uma imagem menos
autoritária e ortodoxa que nos represente.

*
Professor da Unipampa de São Borja